Verificação das regras do Minha Casa Minha Vida com o Solibri

O BIM vem sendo cada vez mais utilizado nos projetos de edifícios no Brasil e em diversas partes do mundo. De acordo com Solihin e Eastman (2015), os usuários que superaram sua curva inicial de aprendizado estão percebendo melhor os potenciais da modelagem da informação do edifício a partir do emprego de uma ou mais plataformas BIM, as quais sustentam o desenvolvimento dos projetos, a construção, operação, manutenção e muitos outros processos.

A complexidade crescente dos edifícios trouxe como uma das consequências o aumento da dificuldade no desenvolvimento e na gestão do processo de projeto. Dele participam um grande número de agentes, cujos projetos exigem o atendimento à variados códigos: normas, códigos legais, códigos de edificações, etc., nos quais os requisitos demandados devem ser atendidos.

Os códigos são escritos em linguagem humana. Amplos e complexos, exigem compreensão e conhecimento substanciais pelos usuários, muitas vezes são mal estruturados, podem ser inconsistentes, redundantes e contraditórios e em última instância, dependem da interpretação dos funcionários públicos, do arquiteto e demais projetistas.

Racionalizar o processo regulatório dos edifícios pode reduzir drasticamente o tempo necessário a fim de obter o alvará de construção, aumentar o resultado para o investidor e a receita fiscal para o município. Ademais, a sistematização do processo de análise de códigos deve resultar na redução de erros ou decisões inconsistentes de projeto. Por esses motivos, a automatização da verificação dos códigos, onde regras bem definidas podem ser aplicadas automaticamente, com a mínima intervenção do usuário, se faz cada vez mais necessária, (NAWARI, 2012).

Eastman et al. (2009) definem a verificação automática de códigos como o ‘uso de um software que não modifica um projeto, mas que avalia esse projeto segundo a configuração dos seus objetos, suas relações e atributos’. Em sistemas baseados em regras, aplicam-se restrições ou condições para um projeto proposto, obtendo-se resultados como ‘passar’, ‘falha’, ‘aviso’ ou ‘desconhecido’.

Regras do programa Minha Casa Minha Vida

O programa Minha Casa Minha Vida é constituído por conjuntos de regras que precisam ser obedecidas. As regras estão em dois documentos em Excel e disponíveis no site do Ministério das Cidades.

Nesse artigo trataremos das especificações mínimas das unidades habitacionais.

A especificação é dividida em 19 seções:

  1. Dimensões dos cômodos
  2. Área útil
  3. Cobertura
  4. Paredes
  5. Paredes de geminação
  6. Revestimento interno e áreas comuns
  7. Revestimento externo
  8. Revestimento áreas molhadas
  9. Portas e ferragens
  10. Janelas
  11. Pisos
  12. Pinturas
  13. Louças e metais
  14. Instalações elétricas e telefônicas
  15. Diversos
  16. Tecnologias inovadoras
  17. Dispositivos economizadores de água
  18. Conforto térmico e eficiência energética
  19. Acessibilidade e adaptação

O pdf abaixo mostra detalhadamente todas essas especificações:

Especificações das unidades habitacionais

Trataremos nesse artigo somente do item 1: Dimensões dos cômodos.

Esse tópico deverá ser o primeiro a ser verificado, pois estabelece as dimensões mínimas dos cômodos e da unidade habitacional.

“Estas especificações não estabelecem área mínima de cômodos, deixando aos projetistas a competência de formatar os ambientes da habitação segundo o mobiliário previsto, evitando conflitos com legislações estaduais ou municipais que versam sobre dimensões mínimas dos ambientes, sendo porém obrigatório o atendimento à NBR 15.575”

Iremos desenvolver nos próximos artigos as outras 18 seções do programa. Caso a unidade habitacional não atenda a seção 1, dimensões dos cômodos, não existe sentido que sejam feitas as demais verificações

Escolha do modelo para simulação.

A partir de uma amostragem feita em sites de empresas construtoras e folhetos de venda de imóveis da categoria Faixa I do programa, foi escolhida uma planta de unidade bastante comum para essa tipologia. Visualize o modelo em 3D abaixo.

Metodologia

Em termos práticos, um sistema automático de verificação de códigos é uma comparação sistemática entre cada objeto ou sistema de um modelo BIM contra restrições padronizadas. O resultado é normalmente uma lista de objetos com não conformidades, (DIMYADI; AMOR, 2013). Eastman et al. (2009) formularam o processo, o qual entenderam ser necessário, com o objetivo de implementar um sistema de verificação de regras funcionalmente completo. Ele é desenvolvido em quatro fases, conforme a Figura 1. Utilizamos esse processo para os testes efetuados.

Solibri

Execução das regras utilizando o Solibri

O Solibri Model Checker é o único software comercial do mundo que permite a verificação de regras em um modelo BIM. O Solibri contém uma biblioteca de 43 regras comuns e mais 5 de acessibilidade. Cada uma dessas regras cumpre determinada função, podendo ser entendida como um “operador”. A combinação dessas regras deve responder ao requisito do programa, para isso a fase 1, de interpretação e estruturação das regras é fundamental para se obter a lógica para a aplicação.

Da mesma forma, a fase 2, “preparação do modelo BIM”, é indispensável, pois, por exemplo, os espaços no modelo devem atender à nomenclatura que está preparada no Solibri. Notem que as nomenclaturas devem ser idênticas, caso você tenha nomeado o espaço como “dormitório de casal” em seu software de modelagem, esse mesmo nome deve ser dado na classificação de espaços do Solibri. Recomendamos que a nomenclatura seja padronizada atendendo a norma BIM constante na Tabela de Espaços por Função das omniclass.

A padronização da nomenclatura de espaços e objetos é fundamental pois permite o reaproveitamento das regras criadas no Solibri para projetos da mesma natureza, resultando em verificações bastante eficazes.

Regras que foram verificadas no Solibri

Após a leitura dos requisitos foram feitas adequações para a reprodução dos mesmos no Solibri, conforme figura abaixo.

Minha casa minha vida

Resultados dos testes no Solibri

Após a carga do modelo BIM no formato IFC, o Solibri efetuou os testes conforme exemplo abaixo.

Problema: A largura mínima da cozinha deve ser de 1,80m, nesse caso a largura está com 1,60m

Solibri

Problema: A área mínima da unidade deve ser 41 m2. A unidade analisada está com 37,5 m2

Solibri

Problema: Espaço livre de obstáculos em frente às portas de no mínimo 1,20 m. As portas detectadas tem obstáculos com menor distância do que 1,20 m.

O relatório completo dos problemas detectados pode ser visto nos pdfs abaixo.

MCMV - relatório de não conformidades

Relatorio Resumido mcmv

Este artigo é original do site MAKE BIM. Acesse o site www.makebim.com e veja a continuidade deste artigo.